sábado, fevereiro 02, 2008

Um orgulho para todos nós!

Deixamos aqui o trabalho realizado por Norberto A. Lopes, do Jornal de Noticias, em que faz uma retrospectiva sobre a carreira de José Bosingwa.

José Bosingwa é como o vento. Acelera e abranda o jogo do F. C. Porto, avança e recua no flanco direito. É o perfil do lateral moderno, ídolo feito no Dragão, o sonho mais recente do Manchester United. Traços do jogador nascido a 24 de Agosto de 1982, em Mbandaka, no Zaire, actual República Democrata do Congo. Um menino que tinha jeito para ser basquetebolista.

Um menino que conhece o calor de África, onde a família construiu a base próspera do sustento. O pai é português, a mãe congolesa, um cruzamento de sangue que molda uma personalidade divertida. Chegou a Portugal há pouco mais de dez anos para escapar à onda de pilhagens que ameaçava o bem-estar social. Refugiou-se no frio de Seia, a terra da família paterna. António Silva, o irmão, jogava no Oliveira do Hospital, e era a porta da segurança aberta.

"Como tu temos muitos"

Mas o futebol foi um mero acaso da vida. "No desporto escolar, distinguia-se a jogar basquetebol e nas corridas de velocidade, já era muito rápido", recorda Vítor Pinto, o homem que detectou o talento futebolístico de Bosingwa, o que os outros desperdiçaram - um dia, foi treinar à experiência ao Oliveira do Hospital e foi dispensado. "Disseram-lhe 'como tu, temos aqui muitos", conta o primo Armando, jogador do Gouveia. Por isso, passou a jogar futebol, na rua, com os amigos.

Avançado perdulário

Um dia, Vítor Pinto, do Fornos de Algodres, precisava de jogadores para a equipa de iniciados e deixou-se seduzir pela habilidade do pequeno Bosingwa. "Antes de um jogo, raparei num grupo de jovens que brincava no pavilhão e o Zé distinguia-se com a bola". Começou por ser avançado, mas "falhava muitos golos", como recorda Nélson Almeida, um dos primeiros treinadores. "Era capaz de fintar o guarda-redes, mas depois não sabia o que fazer à bola".

Por isso,fixou-se no meio campo, onde "ninguém passava por ele", mas jogava com a mítica camisola dez. "Era um miúdo tímido, os colegas pregavam-lhe partidas. Escondiam-lhe a roupa e ele chorava". O talento moldou-se, a fama chegou ao Benfica, ao Sporting e ao Boavista. Mas os axadrezados levaram a melhor, por 500 euros e alguns pares de botas - hoje, o F. C. Porto não o vende por menos de 30 milhões de euros…

Muito observador

Integrou os juvenis com a época em curso, mas não podia jogar porque não estava inscrito. "Depois, começou a temporada como titular, a médio centro, porque tinha uma inteligência táctica invulgar para um miúdo de 14 anos. Era sempre o primeiro a chegar aos treinos e muito observador", recorda Joaquim Libório, o primeiro técnico de Bosingwa no Bessa.

Jogou quatro anos nos escalões de formação, as portas das selecções abriram-se e a chegada a sénior era uma realidade. Brilhou no Torneio de Toulon, em 2000, e foi emprestado ao Freamunde, da Liga de Honra. Esteve lá uma época, depois regressou ao Boavista campeão nacional e Jaime Pacheco adaptou-o a lateral direito. "Pela velocidade, tinha condições para ser um bom lateral, mas fui muito criticado, porque diziam que podia acabar com a carreira dele. Hoje, é um dos melhores laterais do Mundo!", recorda o treinador do Boavista, que tinha uma estratégia montada "Queria protegê-lo. Primeiro, coloquei-o a extremo para se adaptar à ala, se ele errasse nunca colocaria a equipa em causa e teria mais tranquilidade. Depois recuou no terreno".

A partir daí, ganhou o lugar na defesa, mas a afirmação efectiva foi duvidosa, "por questões emocionais e psicológicas", como sublinha Pacheco. "Por isso, disse que tanto podia jogar no Real Madrid como nos distritais". Porém, o destino não foi cruel. Em 2003/04, foi para o F. C. Porto por 1,5 milhões de euros, onde se sagrou campeão europeu - era suplente. Mourinho via-o como trinco e só voltou a ser lateral com Adriaanse - a partir daí, ganhou a titularidade. E hoje é um dos rostos da selecção portuguesa.

in Jornal de Noticias


1 comentário:

Anónimo disse...

O Zé é um rapaz humilde, que construiu a carreira com muito suor e algumas lágrimas e que merece toda a sorte do mundo!